"I never die"

Isso foi há muito tempo, para ser mais preciso, há cinco anos atrás. Lembro como se fosse ontem, e isso me tormenta todo santo dia. Se eu não fosse tão covarde, eles ainda poderiam estar vivos. Éramos seis amigos, Adriano, Eduardo, Iasmim, Talita, José e eu, Cris.

Já estávamos de férias há uns 10 dias e não tinha nada para fazer. Manaus, a cidade onde moramos, nessa época do ano só chove, ou faz calor. Mesmo assim, Eduardo teve a ideia de todos nós irmos fazer um passeio, saindo um pouco da cidade e entrando um pouco mais na mata, porém iríamos continuar no limite cidade/selva. Como jovens, imaturos e inocentes, fizemos nossos pais deixarem irmos sozinhos até o limite, e, acampar uma noite ao lado da natureza, afinal de contas, todos nós já tínhamos 17 anos. Não sabíamos, mas estávamos para assinar a nossa morte. Pegamos 4 ônibus, uma canoa e andamos cerca de dez quilômetros até chegar numa espécie de acampamento, onde ficaríamos até o amanhecer.

Eram cerca de 18:30 quando começou uma forte chuva. Nossas barracas balançavam, a fogueira apagou e nossa comida ficou encharcada. Fomos forçados a adentrar mais uns 20 metros para dentro da mata fechada. A grande quantidade de árvores fazia com que a chuva escorresse pelo tronco e caísse mais suavemente no chão. Ficamos todos quietos até o celular de José tocar várias e várias vezes.

O barulho nos assustou, mas o que era mais estranho era que era praticamente impossível ter algum tipo de sinal naquele lugar. ''28 mensagens?!'' Foi oque ele disse. Meu amigo começou a ler uma por uma. Logo ele deixou o celular cair no chão, lágrimas começaram a escorrer por todo seu rosto. Eduardo juntou o celular do chão e percebeu que todas as mensagens eram de seu pai. ''Sua mãe teve um derrame, ela esta no hospital nesse momento e o caso dela é bastante grave''. José se levantou e caminhou com raiva em direção ao nada.

Eduardo o seguiu para consolá-lo. Ficamos só eu, Adriano, Talita e Iasmim. Ouvimos um barulho estranho vindo de atrás de um arbusto. Uma garota, levemente familiar para mim, tomava água, de quatro numa poça. Ela nos olhou e logo disse estar perdida. Particularmente, eu a achava muito linda. A levamos até onde estávamos, todos pareciam olhar para ela da cabeça aos pés. Talita ficou vermelha quando foi tocada em sua mão. Nos apresentamos, mas a garota não falava nada. Não sabia dizer seu nome, idade, nem nada. Logo tentamos pedir ajuda por nossos celulares. A garota chamou Talita para conversar a sós.

Eu e Adriano não nos importamos, pois, oque duas garotas iriam fazer de mal sozinhas?, por outro lado, Iasmim ficou gritando coisas do tipo ''Vai lá amiga!'', ''quero ver rolar!''. Rimos um pouco com a atitude dela. Iasmim virou para a gente e perguntou: ''Será que eu tenho chance com ele? Mas tipo se a Tata ficar eu vou sentir um pouco de inveja''.

Olhamos para ela e Adriano perguntou: ''Você é lésbica?!''. Iasmim afirmou logo que não e respondeu: ''Ele parece bem afeminado, mas, olha aqueles músculos, o corpo todo esculpido, o cabelo loiro os olhos verdes, eu nem iria me importar se ele...'' Eu e Adriano ficamos confusos. Logo eu a respondi: ''Músculos?, Cabelo loiro?, olhos verdes?, Você esta precisando usar uns óculos! Esta é a garota mais linda que eu já vi! Cabelos negros e compridos, olhos castanhos, corpo todo trabalhado..." Adriano logo interrompeu afirmando: ''Cara, ela é ruiva!''. Logo vimos, José e Eduardo parados, assustados, olhando para a pessoa que deixava escorrer sangue dos dentes e segurava em uma das mãos os óculos roxo que Talita usava.

A criatura disse ''Oi amor!'' Para Iasmim, a beijando e misturando o sangue entre as duas bocas. Seu braço atravessou nossa amiga e em sua mão dava para ver os ossos, provavelmente da coluna, de Iasmim sendo esmagados. O barulho era horrível, vou me lembrar dele para o resto da minha vida, parecia uma garrafa pet, daquelas de refrigerante sendo amassada. Adriano se virou e vomitou.

O monstro gritou alto e fino, sua voz causava dores em nossa cabeça. Corri o mais rápido possível para longe dali. Adriano foi arremessado e caiu bem na minha frente, seus membros foram dobrados em várias direções. Eduardo correu para dentro da floreta, José ficava repetindo a mesma frase: ''Mãe... porque esta fazendo isso? você... morreu!'' A criatura ficou ao lado dele e apenas disse: ''EU NUNCA MORRO''. Não fiquei lá para descobrir oque iria acontecer. Nunca mais vi José e Eduardo, provavelmente estão mortos, junto com o resto dos meus amigos.

Corri até desmaiar, fui encontrado de manhã, perto de um rio por pescadores. A policia foi investigar e, colocou a culpa em mim pelo o que aconteceu com todos. Hoje estou internado em um hospital psiquiátrico para garotos que cometeram atrocidades, como acham que eu fiz. Ninguém vem me visitar. Juntei informações com pessoas que afirmam terem visto a entidade e, até onde sei, a criatura é imortal e, assume a forma de alguém para ter a confiança da vítima.

Alguém conhecido, no meu caso, a minha primeira namorada era a garota bebendo água numa poça, mas eu não lembrava. Ninguém sabe porque ela faz isso. Uns dizem ser um espírito da natureza outros dizem ser um demônio, apenas sei que ainda sinto a presença daquele ser... se bem... que aquela enfermeira parece muito a minha tia, que morreu, a oito anos.

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